Desde muito cedo, a engenharia militar fez-se presente na história do Brasil. Remontando ao período colonial, seu legado compreende a construção de numerosas fortificações ao longo do litoral e nos mais distantes recantos, a produção de mapas e a demarcação de fronteiras de um território inexplorado e de dimensões continentais.
Na data de seu nascimento, honramos a memória do Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, patrono do Quadro de Engenheiros Militares (QEM). Português, nascido na cidade do Porto, em 3 de agosto de 1748, ele cursou Engenharia e Infantaria na Academia Militar de Portugal, tendo chegado ao Brasil em 1780, como capitão do Real Corpo de Engenheiros do Rei de Portugal.
Em virtude de sua experiência na Comissão de Limites do Tratado de Santo Ildefonso (1777), Ricardo Franco foi designado para chefiar a Terceira Partida Demarcadora de Limites, encarregada da demarcação das novas fronteiras entre o Brasil Colônia e os domínios espanhóis na Região Amazônica. Como cartógrafo e geógrafo, realizou o mapeamento das capitanias do Grão-Pará, de Mato Grosso e de São José do Rio Negro (atual Amazonas). Como engenheiro, foi responsável por obras de reconhecido valor estratégico, entre as quais o Forte Príncipe da Beira (Rondônia), o Quartel dos Dragões em Vila Bela (Mato Grosso) e o Forte Novo de Coimbra (Mato Grosso do Sul). Como desbravador, explorou mais de meia centena de rios nas Regiões Norte e Centro-Oeste. Tais feitos comprovaram o valor técnico e a capacidade profissional desse arrojado militar.
Em 1797, Ricardo Franco recebeu o derradeiro desafio de sua carreira, que viria a ser sua maior façanha. Conjugando competência, persistência, patriotismo e engenhosidade, liderou a construção do Forte Novo de Coimbra em substituição à velha paliçada então existente, contando apenas com escassos recursos locais em mão de obra e em materiais, além de limitado orçamento.
No comando do Forte de Coimbra, Ricardo Franco escreveu definitivamente seu nome na história. O forte ainda estava incompleto quando, em setembro de 1801, foi cercado por uma frota de guerra paraguaia dotada de esmagadora superioridade numérica, sob o comando de Dom Lázaro de Ribeira. À frente de um efetivo reduzido, de menos de 50 soldados, e contando com o apoio de uns poucos civis, Ricardo Franco rejeitou altivamente o ultimato dos invasores para depor as armas. Liderou heroicamente seus soldados, resistindo à violenta investida inimiga durante cerca de dez dias. A força oponente, surpresa e derrotada pela tenaz e aguerrida resistência da pequena guarnição, bateu em retirada. Preservou-se, assim, o domínio português sobre o forte e toda a região. Por sua extraordinária atuação à frente do Forte de Coimbra, a Coroa Portuguesa o promoveu ao posto de coronel.
Após uma carreira de extenuantes e grandiosos trabalhos, ainda no comando do Forte de Coimbra e enfraquecido por doenças tropicais, o destemido engenheiro e militar faleceu em 21 de janeiro de 1809. Como reconhecimento aos seus feitos e à relevância de seu legado, o Coronel Ricardo Franco, ícone da união entre as mais nobres virtudes castrenses e a maestria técnica, tornou-se, em 12 de junho de 1987, o patrono do Quadro de Engenheiros Militares do Exército Brasileiro.
Inspirados no exemplo de seu patrono, gerações de engenheiros militares labutam diligentemente para atender às crescentes, dinâmicas e complexas demandas de natureza científico-tecnológica impostas a qualquer exército moderno. O meticuloso trabalho técnico do engenheiro militar está presente não só no Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do Exército, como também em outros setores da Defesa e em relevantes ações que proporcionam reais benefícios para a sociedade, contribuindo, assim, para o crescimento e para a manutenção da soberania do Brasil.
Cada vez mais, as políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) estão intimamente ligadas ao desenvolvimento das nações. É nesse ambiente dinâmico do início do século XXI que se insere a figura do engenheiro militar, do qual se requer uma capacidade contínua de evoluir e de se adaptar ao surgimento de novos paradigmas de desenvolvimento econômico-social, em que a globalização, o conhecimento, a tecnologia e a inovação tornaram-se fatores essenciais para a geração de riquezas.
Nesse novo ambiente, uma ciência forte e uma boa engenharia são fundamentais para o enriquecimento de uma nação. Para tanto, conforme apregoa a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o ensino da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática (do inglês STEM – science, technology, engineering and mathematics) deve ser amplo e precocemente fomentado nas novas gerações. Nessas áreas, uma educação de alto nível já é uma realidade no Instituto Militar de Engenharia (IME), pioneiro no ensino da engenharia nas Américas, instituição de reconhecida excelência no ensino superior brasileiro e berço formador dos oficiais do QEM.
A capacidade técnica dos engenheiros militares está presente na obtenção, na pesquisa e no desenvolvimento de novos sistemas e de materiais de emprego militar, no teste e na avaliação de sistemas e armas, nos ensaios laboratoriais, na produção industrial de interesse do Exército, na gestão da inovação e na logística. Na busca por tecnologias disruptivas ou pelo estado da arte da pesquisa científica, os engenheiros militares estudam temas complexos e estratégicos como, por exemplo, cibernética e defesa química, biológica, radiológica e nuclear.
A atuação contínua dos engenheiros militares também se faz marcante nas áreas de tecnologia da informação e de comunicações; no desenvolvimento de softwares e de sistemas de comando e controle; na gestão de bancos de dados; no projeto, manutenção e operação de redes de dados; na gestão de datacenters; e na produção de geoinformação.
Ademais, o desempenho dos engenheiros militares também é constantemente requerido e desafiado em atividades voltadas ao desenvolvimento nacional, como nas obras de engenharia de construção e na recuperação de infraestruturas estratégicas, como rodovias, portos e aeroportos, na fiscalização de produtos controlados ou no mapeamento sistemático do território nacional.
No momento em que o Exército passa por um processo de profunda transformação, a ciência, a tecnologia e a inovação constituem vetores fundamentais para se atingir os grandes objetivos voltados à operacionalidade da Força Terrestre. Nesse contexto, os oficiais do QEM estão sempre presentes, atuando, de forma especializada ou multidisciplinar, em todos os Programas Estratégicos do Exército indutores de modernidade.
Neste dia 3 de agosto, o Exército Brasileiro saúda os integrantes do Quadro de Engenheiros Militares, reconhecendo sua dedicação ao serviço do Exército e suas contribuições ao Brasil. Hoje, reverenciamos as conquistas passadas, enaltecemos sua atuação no presente e promovemos seu compromisso na busca incessante por soluções que resultem em benefícios inovadores no futuro, rememorando e pondo em prática os valores de seu insigne patrono, o Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra.