Rio de Janeiro – Pesquisadores civis e militares sobre a História das Forças Armadas no Brasil reuniram-se na quarta-feira (24), no Rio de Janeiro, para debater o atual estágio de desenvolvimento e as perspectivas de estudos acadêmicos na área. Promovidos pelo Museu Naval da Marinha, o “VI Ciclo de Estudos e Pesquisas em História Militar” e o “II Encontro de Historiadores Militares” prosseguem no próximo dia 30/09.
A primeira conferência do evento foi do professor-doutor Francisco Doratioto (foto acima), da Universidade de Brasília (UnB), um dos grandes especialistas sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870) na academia brasileira. Doratioto discorreu sobre as diferentes interpretações acerca do conflito – o maior já acontecido no continente sul-americano – ao longo da história.
O professor desmistificou interpretações como a de que o Paraguai teria sido alvo de uma ação imperialista por parte da Inglaterra, maior potência do século XIX, que teria utilizado Brasil, Argentina e Uruguai para conter o desenvolvimento paraguaio. “Não há documentos que comprovem a tese da Inglaterra como a causadora da guerra. Ninguém sério na academia considera essa premissa”, explicou.
Doratioto reforçou a posição contemporânea de que a guerra foi gerada por conta de controvérsias geopolíticas da época, como as definições das fronteiras de estados recém-criados na América do Sul, e a necessidade paraguaia de ter um porto que viabilizasse a exportação de seus produtos.
Além disso, o professor falou sobre questões acerca do conflito que continuam em aberto. Entre elas: quantos morreram de fato?; Por que Solano López não se rendeu após a queda da fortaleza de Humaitá, em 1868? O então presidente argentino, Bartolomé Mitre, esperou o ataque paraguaio como forma de aglutinar as províncias do país em torno do governo de Buenos Aires?
No fim da conferência, que teve duas horas de duração, Doratioto ressaltou que a Guerra do Paraguai foi decisiva para o afloramento do espírito nacionalista. “Antes os cidadãos eram cearenses, pernambucanos, gaúchos…. com o conflito, o nacionalismo brasileiro ganhou forma e conteúdo”, disse.
Acervo
O historiador e capitão-de-corveta Carlos André Lopes, da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), fez apresentação sobre o empenho da Força Naval em preservar sua memória desde o século XIX. Segundo o comandante, hoje são 46 as bibliotecas que atuam de forma integrada para conservar um acervo que inclui o histórico de cerca de mil embarcações militares.
Já o historiador e capitão Alcemar Ferreira Júnior, do Arquivo Histórico do Exército (AHEx), apresentou a riqueza do material disponível na instituição. O acervo inclui 5,7 mil mapas desde 1549, ordens do dia da Guerra do Paraguai, arquivo dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), e fotos históricas, como uma coleção de 345 imagens do marechal Cândido Rondon.
Na última parte do evento, os professores-doutores Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Francisco Eduardo de Almeida, da Escola de Guerra Naval (EGN), trataram sobre as interações entre os estudos históricos militares e a área das Relações Internacionais.
Fotos: Felipe Barra
(MD ASCOM/ FM)