Iniciativa piloto do Projeto de Telessaúde do Brasil é avaliada

Em fase de teste de conceito, o projeto-piloto do Projeto de Telessaúde do Brasil, coordenado pelo Ministério da Defesa, na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Marajó, em Cristalina (GO) continua avançando. Neste sábado (24), o Secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto (SEPESD) do Ministério da Defesa, General Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, acompanhou comitiva integrada pelo Comandante do Exército, General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, pelo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do Ministro do Turismo, Gilson Machado, até o local.

O grupo conheceu o trabalho, que vem sendo desenvolvido desde janeiro e já proporcionou mais de mil atendimentos na localidade. Na ocasião, o gerente do Projeto, General Marco Antônio Martin, fez uma apresentação do Programa e das metas para os próximos meses. “Nosso objetivo é levar assistência médica para comunidades distantes”, explicou. A UBS foi escolhida para iniciar o projeto-piloto em função de atender ao escopo do Programa, que contempla áreas afastadas de grandes centros hospitalares e com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo de 0.6.

O Comandante do Exército elogiou a iniciativa e visualizou benefícios do Projeto de Telessaúde em futuro emprego nos Pelotões Especiais de Fronteira. “O Exército tem interesse, pois temos 27 pelotões em lugares isolados onde poderíamos utilizar essa ferramenta, por meio da qual o paciente pode ser atendido in loco, com resultado na hora, e, muitas vezes, evitando a remoção para os grandes centros”, exemplificou.

Aproveitando o gancho sobre os benefícios da telemedicina para as pessoas que estão em localidades mais isoladas e de difícil acesso, o Ministro do Turismo citou o Projeto como ponto positivo na percepção sanitária dos turistas. “A tendência mundial é o ecoturismo e o turismo da terceira idade. O Projeto de Telessaúde agrega tecnologia e segurança à experiência do turista”, completou Gilson Machado.

Marcelo Queiroga destacou a importância de se investir em políticas públicas capazes de mudar os cenários e os desfechos desfavoráveis e foi incisivo na adesão ao programa: “Em nome do Ministério, quero reafirmar que estaremos juntos, para que esse projeto chegue aos mais 5.570 municípios dessa Nação”.

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A comitiva também acompanhou o atendimento da paciente Alelustania Macedo da Silva, grávida de quatro meses, que estava fazendo o pré-natal na UBS e realizando exames de rastreio por meio de equipamentos de alta tecnologia de telemedicina. A gestante disse que, neste momento de pandemia, a agilidade no processo de atendimento e diagnóstico foi fundamental para a sua saúde e a de seu bebê. “Meu primeiro atendimento foi muito rápido. Passei pela triagem, me encaminharam para o médico e, em seguida, para a ginecologista. Além de ser gestante, tenho outros problemas de saúde e o suporte que estou recebendo aqui está sendo muito bom”, comemorou.

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Ação interministerial

O Projeto consiste em estratégia intersetorial e interministerial dedicada à convergência de ações e de recursos nacionais relacionados às tecnologias de informação e de comunicação (TICs) em saúde. Visa a contribuir para o acesso integral aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) em municípios distantes dos centros urbanos e socialmente vulneráveis, com baixo IDH. Juntamente com o Ministério da Defesa, participam do programa os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações; da Saúde; das Comunicações; da Educação; da Cidadania; da Economia; e de Minas e Energia.

É centrado no paciente do SUS e no seu acesso a serviços de saúde a partir de uma agenda integrada de saúde digital. Para isso, são utilizadas tecnologias que viabilizam a execução desses serviços em diversas áreas de telessaúde e telediagnóstico previstas no Programa. Assim, para o seu desenvolvimento são necessárias melhorias na infraestrutura dos estabelecimentos de saúde, como acesso à banda larga de internet, dispositivos tecnológicos e digitais e energia elétrica onde não exista, priorizando a geração de energia alternativa. Além disso, para implantação e operacionalização do Programa, é preciso realizar a capacitação técnica de profissionais das áreas de saúde e de tecnologia.

Tudo isso já foi realizado na UBS de Marajó, que atende a uma população de cerca de 15 mil pessoas do Distrito de Campos Lindos, situado no município Cristalina, a 385 km de Goiânia. O projeto piloto está em funcionamento há cerca de quatro meses, e, segundo o Secretário de Saúde de Cristalina, Ednardo Gonçalves Ribeiro, já se mostra um instrumento eficaz na melhoria da qualidade do atendimento de saúde da população e na redução de custos e do tempo de deslocamentos.

“A otimização de tempo e de recursos é inquestionável. Nós mandávamos vários pacientes para realizar exames e consultas em outros municípios, e, agora, estão sendo realizados aqui, com muita qualidade”, disse ele. Até o momento, foram realizados mais de mil atendimentos na UBS de Marajó e já estão funcionando as especialidades de teleoftalmologia, telepediatria, telecardiologia, teledermatologia, teleginecologia e telepsiquiatria.

De acordo com o gerente do Programa, General Marco Antônio Martin da Silva, essas especialidades foram levantadas com a expertise do trabalho realizado nas missões interministeriais que levaram assistência médica especializada às comunidades indígenas, que vivem em locais de difícil acesso e distantes de grandes centros.

“Nossa experiência nas fronteiras mostrou a carência de algumas especialidades de extrema importância nesses locais distantes e vulneráveis. A falta de um profissional de gineco- obstetrícia faz com que não seja realizado, por exemplo, um pré-natal, o que pode acarretar vários problemas, tanto para a mãe quanto para a criança, e, até mesmo, levar a óbito”, explicou o General.

Fluxo do atendimento

O Projeto de Telessaúde do Brasil prevê um percurso do paciente, desde a sua chegada à unidade, até a sua saída, com máxima resolutividade. Ao chegar a UBS, o paciente é atendido na recepção, onde fornece seus dados pessoais, que são inseridos na plataforma do tele saúde. Aquele que não possui cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS) consegue fazê-lo na recepção e ter impresso seu Cartão Nacional de Saúde (CNS), documento de identificação do usuário do SUS, uma vez que o sistema está integrado.

Após esse cadastro inicial, o paciente é direcionado para a sala de triagem, onde é recepcionado por uma técnica de enfermagem capacitada para realizar a triagem com o equipamento CNOGA, que avalia, em aproximadamente um minuto e meio, 17 parâmetros vitais, entre eles, frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio. Com essa avaliação, o paciente é encaminhado para o médico, de acordo com a sua classificação de prioridade.

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Já no consultório médico, o paciente é avaliado e tem sua conduta conforme os protocolos estabelecidos. Caso haja a necessidade de alguma consulta mais especializada, o projeto conta com a participação inicial de cinco especialidades: a telecardiologia, que disponibiliza um eletrocardiograma; a teledermatologia, com a utilização de um dermatoscópio; a telepediatria, a telepsiquiatria, e a teleoftalmologia, que utiliza um retinógrafo.
O paciente também tem acesso a exames laboratoriais, realizados instantaneamente com o equipamento HILAB, que disponibiliza exames de glicemia, BHCG, hepatite B, hepatite C, Covid-19, função renal, hemoglobina glicada, VDRL (sifilis), HIV, toxoplasmose, perfil lipídico, dengue, zika, PSA, TSH e vitamina D.

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De acordo com a médica Livia Marcacini, coordenadora do projeto na UBS de Cristalina, alguns desses exames demoravam meses para serem realizadas e outros, como o de vitamina D, não estavam disponíveis na região. “Os encaminhamentos às especialidades diminuíram em aproximadamente 20%, contribuindo para economia, melhor resolutividade das queixas e maior satisfação da população”, ressaltou.

A inovação já tem se expandido no município, contando com 14 unidades básicas de saúde, que passaram pela fase da capacitação e apenas aguardam a chegada dos equipamentos para funcionarem integralmente com o Telessaúde do Brasil.

Por Maristella Marszalek
Fotos: Igor Soares

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