Um galpo repleto de redes chamado redrio ao lado de uma oca, demonstra que aquele local um abrigo diferente dos demais 10 localizados em Boa Vista, capital de Roraima. Cerca de 560 refugiados indgenas venezuelanos habitam o local. Cabelos lisos, pele queimada do sol, mulheres produzindo artesanato, crianas pelo cho brincando com tampas de garrafa pet e outras sucatas. O abrigo Pintolndia conta, ainda, com uma quadra onde os indgenas podem jogar vlei e um espao para as artess exporem e venderem seus trabalhos. Localizado no bairro de mesmo nome, foi estruturado de modo a manter a cultura desses imigrantes.
Em uma pequena sala oferecido atendimento mdico, providenciado por Organizaes No Governamentais. Durante o dia, os militares trabalham em parceria com essas agncias. Diversos so os servios oferecidos, como assistncia psicolgica e nutricionista.
Atuamos em sinergia, unindo foras para um resultado maior, diz o capito Francisco Nunes, que trabalha no local.
Nesse abrigo moram refugiados das etnias Eepa e Warao. Diferente de outros abrigos, que s recebem refeies prontas, os indgenas tambm podem preparar seus prprios alimentos, como as arepas prato tradicional indgena da Venezuela, Colmbia e Panam.
O Tenente-Coronel Marcelo Noronha Coordenador Geral dos abrigos de Boa Vista. Ele responsvel pelos onze abrigos, nos quais escuta os mais diversos relatos dos refugiados.
Essa operao muito impactante no sentido de que todo dia temos uma histria diferente no convvio dirio com os venezuelanos. So pessoas que deixaram sonhos para trs sem perspectiva nenhuma para reconstruir suas vidas, relata.
Uma situao que comoveu muito o militar foi quando esteve em Pacaraima, municpio da fronteira entre Brasil e Venezuela, e um menino lhe pediu um abrao. Na conversa, o coronel soube que o jovem, de 14 anos, no tinha nem pai e nem me. Ele caminhou por trilhas, com outros venezuelanos, por cerca de dez dias, at chegar fronteira com o Brasil.
Cada abrigo que eu visito eu j tenho um parente: um sobrinho, um irmo. muito gratificante. E posso afirmar que o pouco que ns temos muito. Isso aqui um ensinamento para a vida toda, garante o Tenente-Coronel.
A Operao Acolhida
A Fora-Tarefa Logstica Humanitria para o estado de Roraima – Operao Acolhida, teve incio em maro de 2018, com o objetivo de receber, abrigar e interiorizar os venezuelanos que buscam refgio no pas, incluindo indgenas. A misso desenvolve aes nas reas de prestao de servios bsicos e sade pblica, polticas sociais, ordenamento e controle de fronteira. Est estruturada em trs pilares: ordenamento de fronteira por meio da recepo, identificao, documentao, triagem e cuidados mdicos bsicos; abrigamento com a acomodao em um abrigo e um alojamento de passagem na zona de fronteira, Pacaraima, e, posteriormente, nos 11 abrigos disponveis na capital, Boa Vista, onde recebem alimentao, educao, cuidados com a sade e proteo social; e interiorizao, que o deslocamento dos refugiados para diversos estados do pas, com apoio sua insero econmica e social.
Por Mariana Alvarenga
Foto: Raphael Max
(MD ASCOM/FM)