O Exército Brasileiro celebra, em 10 de abril, o Dia da Arma de Engenharia, data que marca o falecimento em combate do Tenente-Coronel João Carlos de Villagran Cabrita, herói da Guerra da Tríplice Aliança e seu patrono.
A história da Engenharia Militar brasileira remete ao Brasil Colônia, quando os portugueses, frente às ameaças de perder o território recém-conquistado, iniciaram a construção de fortes em pontos estratégicos do solo brasileiro. Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, desembarcou, também, o Real Corpo de Engenheiros, que deu origem à Arma de Engenharia do Exército Brasileiro. O 1º Batalhão de Engenharia, atual 1º Batalhão de Engenharia de Combate (Escola), foi a primeira unidade de Engenharia do Exército Brasileiro, criada em 1855.
O Tenente-Coronel João Carlos de Villagran Cabrita nasceu em 30 de dezembro de 1820, na cidade de Montevidéu, na Banda Oriental do rio Uruguai, à época Província Cisplatina, que integrava o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Era filho do Major Francisco de Paula Avelar Cabrita e de D. Apolônia de Villagran Cabrita, de origem castelhana. A separação política da Cisplatina do Império do Brasil, com o surgimento da República Oriental do Uruguai, influenciou a migração da família Villagran para a corte no Rio de Janeiro. Sua consagração na carreira militar ocorreu na Guerra da Tríplice Aliança, quando protagonizou uma das maiores façanhas da história dos combates brasileiros.
Com coragem e pioneirismo, Villagran Cabrita atravessou com sua tropa o tempestuoso Rio Paraná para enfrentar o inimigo em seu próprio território, um feito que, até então, não havia sido realizado por nenhuma tropa aliada. Após horas de intenso combate e graças ao arrojo e à impetuosidade de Cabrita e de seus soldados, a vitória foi alcançada. Contudo, ao redigir o relatório da última conquista, foi atingido por um estilhaço de granada, que lhe tirou a vida aos 46 anos de idade, em 1866.
Justas homenagens foram prestadas à memória do bravo combatente, destacando-se a concessão da insígnia de Cavaleiro da Ordem de Cristo pelo governo imperial e a denominação histórica do 1º Batalhão de Engenharia de Combate – Batalhão Escola de Engenharia.
Durante a II Guerra Mundial, em 1944, a Engenharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi a primeira tropa a enfrentar o inimigo. O 9º Batalhão de Engenharia de Combate de Aquidauana (MS), da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, participou das conquistas de Monte Castello, Castelnuovo e Montese, apoiando o movimento, construindo pontes e realizando trabalhos de desminagem.
No prosseguimento de sua história, a Engenharia prestou apoio humanitário nas missões de remoção de minas na América Central (MARMINCA) e na América do Sul (MARMINAS), bem como nas Missões das Nações Unidas de Verificação em Angola (UNAVEM II e III) e de Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Nessas últimas, apoiando os contingentes da missão e atuando na realização de ações cívico-sociais em prol da defesa civil e do desenvolvimento local.
A evolução do combate moderno exige da Arma de Engenharia constante evolução, tornando o autoaperfeiçoamento do seu pessoal, a modernização do seu material e a atualização de sua doutrina condições essenciais para apoiar a Força Terrestre no amplo espectro dos conflitos atuais. Em face dessa demanda, o Centro de Instrução de Engenharia, em Araguari (MG), atua especializando oficiais e sargentos em todos os cursos e estágios afetos às atividades de construção, manutenção, mergulho e explosivos.
A Engenharia é a arma que tem como missão principal realizar atividades de mobilidade, contramobilidade, proteção e apoio geral de engenharia. Tais ações visam multiplicar o poder de combate das forças amigas, propiciando a conquista e manutenção dos objetivos estabelecidos. Em tempo de paz, o apoio geral de engenharia caracteriza-se pela construção de instalações e obras permanentes em proveito do Exército e da sociedade.
A Engenharia de combate, blindada, mecanizada, paraquedista ou aeromóvel, emprega batalhões e companhias preparados para operações militares e de pronta resposta no socorro a calamidades por meio de reparos emergenciais em estradas e pontes; transposição de cursos de água; eliminação de obstáculos; proteção de pessoal e de instalações; bloqueio de vias e retardamento de deslocamentos, inclusive com campos de minas; suprimento de água; e trabalhos de avaliação técnica.
A Engenharia de construção apresenta-se, cada vez mais, eficaz em ações de integração e de desenvolvimento do País, atuando em obras rodoviárias, ferroviárias, hidroviárias e de infraestrutura aeroviária de grande vulto, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.
Os militares da arma azul-turquesa ostentam com orgulho uma peça de seu uniforme única e característica da tradicional audácia e perseverança dos engenheiros de ontem, hoje e sempre: o chapéu tropical, adotado inicialmente pelo 5º BEC, em julho de 1967, inspirado naquele utilizado pelos bandeirantes dos séculos XVI e XVII, responsáveis pelo desbravamento do território nacional e pela ampliação das nossas fronteiras até o sopé dos Andes. No momento da adoção do chapéu, o engenheiro, bandeirante do século XX, foi desafiado a participar ativamente do desenvolvimento do Brasil, desbravando a Amazônia e integrando aquela região ao restante do País. Sob a sombra do chapéu bandeirante, nasceram cidades, foram cultivadas riquezas, domadas áreas inóspitas, encurtados caminhos para o progresso, foi semeada esperança e colhido o desenvolvimento de nosso Brasil.
Engenheiros da arma azul-turquesa, cujo símbolo – o castelo lendário – perpetua o trabalho pioneiro dos seus integrantes e abriga, como um templo, as tradições e os feitos que transformaram desafios em novas vitórias, sejam fiéis aos exemplos do seu ilustre patrono e, sobretudo, da consciência coletiva traduzida pelo dístico “NÃO VIVEMOS EM VÃO”.
Quer na paz, quer na guerra, a Engenharia fulgura sobranceira em nossa história!