Em 2017, ingresso das mulheres na FAB completa 35 anos

Em 2017, ingresso das mulheres na FAB completa 35 anos

H 35 anos, a Fora Area Brasileira (FAB) abriu as portas para o ingresso de mulheres em diversas especialidades. A instituio vem aumentando, desde 1982, o nmero de representantes do sexo feminino – atualmente com mais de 10 mil militares – totalizando 16% do efetivo da Fora. Na FAB, elas j alcanaram o posto de coronel e hoje ocupam cargos desde a rea administrativa at a operacional, ajudando a garantir no cu brasileiro a soberania do Pas.

mulher fab 1

Era 1982 quando elas, pela primeira vez, vestiram a farda azul. Minas Gerais e Rio de Janeiro foram palco desse marco na histria da FAB. Foi por meio do Quadro Feminino que as mulheres ingressaram na instituio. Em Belo Horizonte, elas se tornaram sargentos. J a capital fluminense viu nascer a primeira turma de aspirantes a oficial.

De l para c, 35 anos se passaram e as formas de ingresso para mulheres s aumentaram. Hoje so mais de 10 mil militares do sexo feminino compondo as fileiras da FAB. So mdicas, pedagogas, aviadoras, bibliotecrias, contadoras, dentistas, controladoras de trfego areo, mecnicas. A lista de especialidades extensa: todas as escolas da Aeronutica, hoje, recebem mulheres.

O pioneirismo, carregado de desafios, fez parte da histria de muitas militares da FAB. Agora, elas contam como a experincia de pertencer a alguns dos principais momentos conquistados pelas mulheres dentro da Fora Area.

1982 PELA PRIMEIRA VEZ, FAB ABRE PORTAS PARA O INGRESSO DE MULHERES

DNA militar:Foi no Quadro Feminino de Oficiais (QFO) que a Tenente-Coronel Dbora Coelho Duarte fez sua carreira. Filha de um sargento enfermeiro da FAB e nascida no hospital da Escola de Especialistas de Aeronutica (EEAR), ser militar aparentava fazer parte de seu destino. A propaganda do primeiro concurso para ingresso de mulheres na Fora Area veio por meio da me. Eu era recm-formada em Psicologia e abracei a oportunidade. O melhor lugar para exercer minha profisso foi criado e parecia reservado para mim. Superou todos os meus sonhos, destaca a militar, hoje na reserva.

Primeira turma de oficiais mulheres em formatura/Acervo FAB
Primeira turma de oficiais mulheres em formatura/Acervo FAB

Nos primeiros contatos com o curso, a Tenente-Coronel conta que a motivao dos instrutores contagiou toda a turma. Por ser muito jovem, no tinha a noo de estar fazendo histria na FAB. Eles instalaram em ns o desejo de fazer a diferena, marcar presena, somar. Fui uma aluna vibradora, uma aspirante e militar da ativa comprometida e sou uma oficial da reserva realizada, revela.

A militar acredita que a entrada das mulheres causou estranheza na poca. Vivemos, no incio, uma fase de adaptao pessoal e institucional (da FAB para conosco). Acredito que houve melhoras e que a presena feminina no cause mais estranheza. Temos demonstrado nossa competncia e profissionalismo. A confiana foi conquistada e constata o acerto da FAB ao admitir mulheres em suas fileiras. Sou imensamente grata pela oportunidade. Valeu a pena, ressalta.

VENCENDO PRECONCEITOS

Para realizar o desejo de ingressar na FAB, no Quadro Feminino de Graduadas (QFG), a jovem enfermeira Mrcia Regina Ferreira enfrentou um conflito familiar e acabou expulsa de casa. O conceito era de que militarismo era coisa muito sria e para os homens, explica a Suboficial Mrcia, atualmente na reserva. Ela conta que at mesmo o caixa do banco se recusou a receber a taxa da inscrio, quando notou que o concurso era para ingresso de mulheres na FAB. Ele no quis receber, disse que isso [a entrada de mulheres na instituio] era um absurdo. Foi preciso chamar o gerente da agncia para efetivar a inscrio, comenta.

Primeira turma do quadro de graduadas presta juramento  Bandeira/Acervo FAB
Primeira turma do quadro de graduadas presta juramento Bandeira/Acervo FAB

O fato deixou a suboficial apreensiva e Mrcia se questionava o que estava fazendo. Vencer os preconceitos foi bem intenso. Penso que todos esses desafios foram meus maiores motivadores. A expectativa ao entrar no curso era de ter o respeito e credibilidade que os homens recebiam. Somos mulheres, vestimos azul. Ns podemos tambm, ressalta a militar, pertencente primeira turma de graduadas. A Suboficial Mrcia no s se formou, mas tambm realizou curso de paraquedismo na Fora Area.

Atualmente, ela percebe uma mudana no pensamento sobre as mulheres nas Foras Armadas. Hoje, as mulheres encontram um ambiente acolhedor compatvel com a mudana social – que tambm j est estabelecida. O quartel um lugar de homens e mulheres. Amei a carreira que escolhi, assegura.

1996 – FAB ADMITE MULHERES NO QUADRO DE INTENDNCIA

Uma parte do projeto de compra do novo caa da FAB, o Gripen NG, passa pelas mos da Major Larissa Caldeira Leite Leocadio. Formada em Administrao, na Academia da Fora Area (AFA), e Mestre em Negcios Internacionais, ela pertence primeira turma mista do Quadro de Oficiais Intendentes da FAB.

Primeiras formandas intendentes da FAB/Acervo pessoal
Primeiras formandas intendentes da FAB/Acervo pessoal

Estava estudando para vestibular de medicina e engenharia mecnica quando meu pai soube do ingresso de mulheres para AFA. Eu abracei a ideia imediatamente, relembra a major que prestou os trs vestibulares, passou e se matriculou nas trs opes. O curso na Academia comeou primeiro, fui para ver como era, e depois de estar inserida naquele contexto decidi no abandonar. Sempre quis fazer alguma coisa pelo meu Pas. Vi na oportunidade de trabalhar na Fora essa possibilidade, explica.

A major conta que o incio da carreira foi desafiador. Fui chefiar a Seo de Suprimento do Parque de Material Aeronutico do Galeo. Eu tinha 21 anos, era chefe de 15 graduados, com anos de experincia na FAB. Trabalhava com aquisies para os avies KC-137, KC-130, C-99, R-99, AMX. Essas aeronaves, alm de grandes, eram de projeo na FAB. Achava muito relevante minha atividade, e acho at hoje, pois est diretamente ligada atividade-fim da Fora, detalha.

2003 PRIMEIRA TURMA COM MULHERES AVIADORAS

Diversas pessoas, ainda hoje, surpreendem-se em saber que existem mulheres pilotos, especialmente na aviao de caa. As palavras acima so da Capito Carla Alexandre Borges. Ela transformou o sonho de criana em realidade ao se tornar umas das primeiras pilotos de caa do Brasil. No ano em que estava prestando vestibular para Engenharia no IME e no ITA, a AFA abriu concurso para mulheres na aviao.

Primeira turma de aviadoras/Acervo FAB
Primeira turma de aviadoras/Acervo FAB

A vida militar era algo novo e a ento Cadete Carla sabia que enfrentaria provaes e obstculos. A distncia da famlia e dos amigos, noites em claro estudando e poucos momentos de lazer foram sacrifcios necessrios. Ser piloto da FAB, em especial de caa, foi o coroamento de uma vida de desafios. No me imagino em nenhuma outra profisso, nem realizando qualquer outro tipo de trabalho. Digo com convico que valeu a pena cada segundo. A aviadora j voou os caas A-29 Super Tucano e A-1.

Capito Carla  da primeira turma de aviadoras da FAB/Sgt Manfrim
Capito Carla da primeira turma de aviadoras da FAB/Sgt Manfrim

Provamos que temos as mesmas capacidades de qualquer outro piloto e nos dedicamos da mesma forma. Hoje, somos vistas no como mulheres aviadoras, mas sim como pilotos militares, prontas para cumprir com excelncia as misses que nos forem determinadas, complementa.

Atualmente, a FAB possui pilotos mulheres nos mais diversos tipos de aviao militar.

2015 FAB TEM A PRIMEIRA MULHER COMANDANDO UMA UNIDADE

A histria da Coronel Mdica Carla Lyrio Martins com a FAB comeou em um estdio de futebol. Na prova escrita – sentada na arquibancada do Estdio do Vasco, lotada de candidatos – pude perceber a dimenso da escolha que estava fazendo para minha vida, explica a militar, fazendo referncia ao primeiro concurso para mdicos em igualdade de concorrncia entre homens e mulheres na FAB.

Primeira passagem de comando entre mulheres na FAB/Acervo pessoal
Primeira passagem de comando entre mulheres na FAB/Acervo pessoal

O pioneirismo sempre esteve presente na carreira da militar. Ela foi a primeira mulher a comandar uma unidade da FAB. Foi em 2015, quando assumiu a direo da Casa Gerontolgica de Aeronutica Brigadeiro Eduardo Gomes (CGABEG), no Rio de Janeiro. Este ano, em fevereiro, a Coronel Carla participou de mais um marco ao transmitir o cargo na CGABEG a outra militar, configurando a primeira passagem de comando entre mulheres na FAB.

Formou-se militar em uma turma composta, alm de mdicos, por dentistas e farmacuticos. Aps realizar um curso de especializao em Medicina Aeroespacial, foi trabalhar em um esquadro de caa, em Santa Maria (RS). Tinha 24 anos. Tive o privilgio de ter sido a primeira mulher aeronavegante com funo a bordo de uma aeronave de caa. Meu primeiro voo foi uma misso operacional de reconhecimento. Entusiasmo o que me move. Gosto do que fao, fao com empenho e aceito desafios. Sou grata e me sinto honrada em servir Fora Area, refora.

2017 MENINAS ENTRAM PARA ESCOLA DE ENSINO MDIO DA FAB EM BARBACENA

A abertura de vagas para a entrada de meninas na Escola Preparatria de Cadetes do Ar (EPCAR) no poderia ter vindo em melhor hora para Milena Zambaldi do Nascimento Lara. Aos 16 anos, viu o sonho de pertencer aviao militar ficar mais perto. Isso porque a instituio, de ensino mdio da FAB localizada em Barbacena (MG), permite aos alunos ingresso direto – aps a concluso dos estudos – na Academia da Fora Area (sem a necessidade do vestibular).

Alunas da primeira turma da EPCAR iniciaram seus estudos em 2017/Sgt Johnson
Alunas da primeira turma da EPCAR iniciaram seus estudos em 2017/Sgt Johnson

Mulher sempre est procura de novas oportunidades. Com a abertura das vagas, pude ir atrs do meu sonho. Estou muito honrada de pertencer primeira turma de meninas na EPCAR. Isso demonstra como a mulher tem aderido cada vez mais ao mundo militar. um novo passo e espero ter sucesso na carreira, ressalta a aluna Milena.

(CECOMSAER/ FM)

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