A Equipe de 21 profissionais de saúde das Forças Armadas está no interior do Estado de Roraima para prestar atendimento aos indígenas da região. Os militares partiram de Brasília, na segunda-feira (29), acompanhados por profissionais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Os atendimentos tiveram início na terça-feira (30). Os profissionais dividiram-se em dois grupos, para melhor atender os pacientes. Um grupo foi para a comunidade Waikás, enquanto o outro seguiu para Auaris, município ao norte do Estado de Roraima e distante 445 km de Boa Vista, na fronteira com Venezuela. Nas duas comunidades vivem cerca de 1,5 mil indígenas.
Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora regional da Fundação Nacional do Índio em Roraima, ressaltou o respeito à cultura local que a missão mantém durante os atendimentos médicos. “Aqui existe um Xamã, ou seja, o curandeiro, e outras crenças. Ninguém impõe nada. Muitas orientações sobre a Covid-19 são transmitidas pelos próprios indígenas. Apesar das dificuldades administrativas e operacionais, não medem esforços para colaborar com a saúde dos indígenas”, destaca a coordenadora.
Na comunidade de Auaris, Fabrício Esmonario Ye’kuana, 33 anos, aguardava ansioso que sua companheira, Delice Gimenes, 22 anos, que há dois anos não realizava uma consulta, fosse atendida pela médica da Força Aérea Brasileira, no 5º Pelotão Especial de Fronteira (5º PEF). “Ela está sentindo dores no abdômen. Estava muito preocupado, mas hoje vou conseguir dormir direito. A ginecologista Fernanda Alfarelos a examinou, medicou e disse que ela vai ficar bem”, conta Ye’kuana.
Entre os militares que servem no 5º PEF, o Cabo do Exército Ezequiel Rodrigues transformou-se no barbeiro oficial dos indígenas daquela localidade. Há quase dois anos ele é requisitado para cortar o cabelo de adultos e crianças. “O crescimento espiritual que a gente tem com a solidariedade é fantástico, e não se alcança com dinheiro algum. É um momento de grande satisfação compartilhar o meu trabalho, conhecer uma nova cultura e realidades diferentes”, ressalta Ezequiel.
Na comunidade de Waikás, a Tenente Alessandra da Silva Felipe de Oliveira, pediatra no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, entre os atendimentos, consultou um pequeno indígena e constatou que estava tudo bem. “A criança está saudável, as bochechinhas estão coradas, e o peso está dentro do normal. É gratificante contribuir para a qualidade de vida dos moradores dessa comunidade. É difícil falar ou entender o idioma dos Yanomamis. Por isso, é fundamental o apoio do agente de saúde da comunidade, que também acaba promovendo a aproximação das Forças Armadas com o seu povo”, destacou a especialista.
Nesse cenário, é cada vez mais frequente a presença de indígenas nas Forças Armadas. O soldado Valdir Sanoma conta que era um sonho de criança que se tornou realidade. “Fui aprender português e estou como soldado temporário. Aqui sou muito respeitado pelos companheiros, e ajudo principalmente no deslocamento na selva e na comunicação com os indígenas. Não tive dificuldade nenhuma para me adaptar à vida militar. Todos os jovens aqui querem prestar concurso e ingressar no Exército”, afirma Valdir.
Em 1º de julho, os atendimentos médicos ocorrerem no 4º Pelotão Especial de Fronteira, na localidade de Surucucu. Esse Pelotão, localizado a 400 km de Boa Vista, está subordinado à 1ª Brigada de Infantaria de Selva. Nesse dia, o Ministro da Defesa, Fernando Azevedo, acompanhou um pouco do trabalho desenvolvido pelos militares na comunidade.
Segundo o morador da região Esmonario Yanomami, normalmente, os índios são atendidos por um único médico, que se desloca uma vez por mês até ali. “Felizmente estamos recebendo essa visita nesse momento de cuidado com o coronavírus. Se não viessem aqui, seríamos obrigados a ir até a cidade. Porém, com as recomendações de evitar sair de casa, melhor não ir”, avalia o indígena.
De acordo com o Secretário Especial de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva, desde o início da pandemia foram desenvolvidas ações de conscientização, prevenção e combate ao vírus. Comunidades indígenas, gestores e colaboradores de todo o Brasil recebem as orientações. “Temos garantido assistência aos mais de 750 mil indígenas brasileiros aldeados durante a pandemia. Aqui em Roraima, a expectativa é de que as equipes de profissionais de saúde da SESAI, junto aos militares de saúde das Forças Armadas, façam o atendimento a cerca de 3 mil indígenas”, calcula o Secretário.
As Forças Armadas transportaram quase quatro toneladas de suprimentos médicos do Ministério da Saúde. O material abastece a missão e os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) nas aldeias.
Houve também entrega de cestas de alimentos enviadas pela FUNAI. Todas foram previamente higienizadas pelas Forças Armadas. Em três dias de missão foram realizados 448 atendimentos médicos em diversas especialidade, como pediatria, infectologia e ginecologia. Os militares ficam na região até 06 de julho, com a previsão de realizar atendimentos médicos em indígenas das etnias Yanomami, Macuxi e Ye’kuana.
Por Edwaldo Costa
Fotos: ST Negreiro e Igor Soares
(MD Ascom/FM)