O Brasil se consolida como potência no desporto militar nos Jogos Mundiais na República da Coreia

Mungyeong, 11/10/2015 – Foram 15 dias desde os embarques nos aeroportos de Guarulhos, em São Paulo, e Tom Jobim/Galeão, no Rio de Janeiro. Os desafios foram intensos. Uma operação de guerra foi montada para que 282 atletas de 24 modalidades esportivas – civis e militares – pudessem disputar um lugar no pódio.

Arremesso de peso paralímpico.

Ao término dessa maratona, o chefe da delegação do Brasil para os 6º Jogos Mundiais Militares, encerrado no domingo (11/10) na República da Coreia, brigadeiro Carlos Augusto Amaral, também diretor do Departamento de Desporto Militar do Ministério da Defesa, fez avaliação da participação brasileira em solo coreano.

Após 10 dias de intensa disputa nas quadras, gramados, piscinas, pistas de ciclismo, no ar ou na terra, no mar, enfim, chega-se ao momento do encerramento dos Jogos Mundiais Militares. O Brasil encerra participação nessa competição como sendo a segunda força do esporte militar do planeta. O senhor podia avaliar esse resultado?

Brigadeiro Carlos Augusto Amaral – Ficamos no segundo lugar no quadro geral de medalhas, com duas de ouro a mais que a China. Acho que o resultado foi um sucesso. A competição aqui envolvia uma série de dificuldades para a obtenção de bons resultados, como a distância do Brasil, a adaptação ao fuso horário, os locais de competição distantes das vilas de hospedagem dos atletas, e eles assim mesmo apareceram, demonstrando o elevado grau de treinamento e motivação da equipe militar das diversas modalidades presentes nos 6º Jogos Mundiais Militares.

O desempenho dos atletas militares brasileiros se deu dentro daquilo que foi planejado?

Brigadeiro Amaral – Sim, de certa forma até superou as expectativas, pois o objetivo estabelecido pelo Ministério da Defesa foi estar entre os cinco primeiros lugares do quadro geral de medalhas e terminamos os Jogos ocupando a segunda posição. Obviamente, como existem outras variáveis que influenciam os jogos, algumas modalidades superaram a previsão feita por nós e outras tiveram um desempenho um pouco menor do que o esperado. Vamos agora realizar uma análise dos resultados para corrigir o que for necessário para melhorar o desempenho.

Esportes que estão mais estruturados, como judô, atletismo e natação, asseguraram mais medalhas ao Brasil. O senhor acha que deve haver reforço em investimento para essas modalidades ou ter mais atenção em outras categorias esportivas que não foram tão bem nos Jogos Militares?

Brigadeiro Amaral – Vamos fazer uma análise dos resultados alcançados nos jogos, com o objetivo de melhorar a participação em eventos futuros. De maneira geral, os investimentos já são realizados priorizando as modalidades com melhor resposta. Por isso, as modalidades com melhor desempenho serão olhadas com muita atenção para evitar que se perca o nível alcançado. Essa análise também indicará caminhos para as outras modalidades, com vistas a identificar medidas para melhorar seus resultados.

Como foi realizada a preparação do Brasil para chegar a Mungyeong, na República da Coreia? Quais os pontos positivos que o senhor poderia destacar?

Brigadeiro Amaral – Desde a conclusão dos 5º Jogos Mundiais Militares de 2011, no Rio de Janeiro, houve a preocupação de se focar nos treinamentos para manter o elevado resultado alcançado na ocasião. Com isso, foram estreitados os contatos com as confederações e federações esportivas, a fim de harmonizar os calendários dos atletas, pois muitos deles possuem índice olímpico. O aperfeiçoamento da parceria com o Ministério do Esporte também foi fundamental para a alocação de recursos em apoio às modalidades olímpicas, com vistas também a preparar o time Brasil que participará dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016.

Natação 4 x 100 masculino

Não podemos esquecer também que nesses Jogos Militares tivemos, pela primeira vez, a participação dos paratletas. Isso foi um ponto importante e que merece ser considerado. Podemos ver nas competições um processo de inclusão significativo. Nós, do Brasil, trouxemos quatro competidores. Obtivemos uma medalha de prata na prova de arremesso de peso com o André Rocha.

No Brasil, antes do embarque da delegação para Mungyeong, o senhor previa que estaríamos no top 5 do quadro de medalhas. Hoje concluímos a participação brasileira em segundo lugar. Se levarmos em conta a Rússia que ficaram em primeiro e a China que disputou até o último minuto segundo lugar no quadro de medalhas, podemos afirmar que somos uma potência no desporto militar?

Brigadeiro Amaral – Tenho certeza que sim. Terminamos em segundo lugar. Com exceção da Rússia, que se destacou significativamente no quadro geral de medalhas, Brasil e China ficaram bem à frente do quarto lugar (Coreia) e dos demais países, demonstrando consistência de resultados ao longo dos anos.

Por exemplo, o pentatlo aeronáutico, o voleibol masculino e feminino confirmaram seus títulos de campeões mundiais obtidos em competições desse nível que ocorreram no ano de 2015.

Ouro no Judô!

Além do mais, participamos em todas as modalidades dos 6º Jogos Mundiais Militares e, mesmo naquelas que não ganhamos medalhas, os resultados foram muito bons e somos respeitados no meio desportivo militar.

A partir de amanhã começam os preparativos para os Jogos Mundiais Militares na China, em 2019. Como o senhor está pensando mais este desafio? Já tem projetado metas a serem alcançadas? Como será este parâmetro?

Brigadeiro Amaral – O primeiro passo é fazer um análise dos resultados em conjunto com as Comissões Desportivas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, com vistas a identificar os pontos fortes e fracos do estado atual das equipes e trabalhá-los com o objetivo de manter e melhorar o desempenho de todas as equipes.

A primeira meta é participarmos com pelo menos 100 atletas na delegação brasileira que defenderá nosso país nos Jogos Olímpicos do Rio no ano que vem, visando à obtenção de pelo menos 10 medalhas.

Também é necessário fortalecer ainda mais a parceria com o Ministério do Esporte, com vistas à disponibilização de recursos para apoio ao programa de treinamento das diversas equipes.

Aprofundar a parceria com as confederações, com o objetivo de coordenar a participação dos atletas militares nos eventos de interesse do Ministério da Defesa.

Entendo também que nos mantermos no que se costuma dizer “top five” é uma meta razoável a nortear nossos planejamentos.

Gostaríamos que avaliasse e comparasse a participação nos jogos da Coreia com os Jogos do Rio, em 2011, e as edições anteriores?

Brigadeiro Amaral – A Rússia demonstrou a superioridade já conhecida das primeiras quatro edições dos Jogos Mundiais Militares, em que foi a campeã. Lembro que na quinta edição, de 2011, no Brasil, a Rússia não participou.

O Brasil, exceto pelos 5º Jogos Mundiais Militares de 2011, abandonou de vez a posição inexpressiva no quadro de medalhas (décimo quinto lugar tinha sido nosso melhor resultado), tornando-se uma potência desportiva militar respeitada pelo meio.

Há alguma modalidade esportiva nova que poderemos contar a partir do próximo ano? Se positivo, como se pretende fazer essa contratação? Como será este procedimento?

Brigadeiro Amaral – Na próxima semana, duas atletas de Nado Sincronizado estarão concluindo o estágio como terceiro-sargento da Marinha do Brasil.

A Marinha também está trabalhando na incorporação de atletas de Saltos Ornamentais, cujo edital está bastante adiantado, devendo ser lançado muito brevemente.

O processo do que você chama “contratação” se dá pelo lançamento de um edital, com os requisitos para preenchimento das vagas existentes. Os atletas de forma voluntária apresentam seus currículos que são analisados e pontuados, a fim de identificar os melhores currículos e proceder à incorporação dos candidatos como militares temporários do Programa Atletas de Alto Rendimento.

Além do mais, fruto da análise que será feita junto com as Comissões Desportivas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, bem como das modalidades que serão disputadas nos 7º Jogos Mundiais Militares de 2019, na China, pode ser que alguma outra modalidade seja introduzida no Programa de Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas.

JOGOS 4

Na Coreia, tivemos atletas que os respectivos desempenhos serviram para pontuarem e, como consequência, devem alcançar a tão almejada vaga para os Jogos Olímpicos Rio 2016. A sargento Iris Sang Tang é um desses exemplos. O senhor poderia avaliar como está a preparação desses atletas militares para as Olímpiadas?

Brigadeiro Amaral – Buscou-se junto ao Conselho Internacional de Esporte Militar para que fizesse gestões junto ao COI (Comitê Olímpico Internacional) a fim de que os 6º Jogos Mundiais Militares fossem considerados eventos classificatórios para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016, considerando o elevado nível da competição.

Como muitos dos atletas militares almejam participar dos Jogos Olímpicos, o foco dos trabalhos a serem desenvolvidos após o regresso ao Brasil, certamente terá esse objetivo.

Para o senhor, qual é a importância do desenvolvimento do esporte militar para o esporte em geral no Brasil? Como o desporto militar está contribuindo para o ciclo olímpico do Rio 2016?

Brigadeiro Amaral – O desporto militar tem dado a oportunidade para que muitos brasileiros tenham condições de treinamento, com o apoio adequado de uma equipe multidisciplinar e instalações adequadas.

É inegável a contribuição para o esporte em geral do Brasil, em especial o ciclo olímpico Rio 2016, como ilustram os resultados obtidos nos Jogos Pan-americanos de Toronto 2015, onde integramos a delegação brasileira com 123 atletas e obtivemos 48% das medalhas conquistadas pelo Brasil na competição.

Além dos atletas, as Forças Armadas do Brasil estão disponibilizando instalações para sediarem competições dos Jogos Olímpicos e também centros de treinamento para as equipes estrangeiras que virão ao Brasil.

Quais as perspectivas para o futuro do Programa de Atletas de Alto Rendimento? Mais esportes serão incluídos? Mais atletas?

Brigadeiro Amaral – O Ministério da Defesa já autorizou a abertura de um novo projeto com vistas à participação nos 7º Jogos Mundiais Militares na China, em 2019, e nos Jogos Olímpicos de 2020. Isso é ótimo, pois contribui ainda mais para a consolidação do Programa de Atletas de Alto Rendimento e seus bons resultados.

De modo geral, o Programa de Atletas de Alto Rendimento não deve crescer muito mais em termos de número de participantes, pois o programa já atingiu uma maturidade expressiva. Pequenos ajustes podem ser feitos para seu refinamento ou para completar as vagas dos atletas que solicitam afastamento do Programa ou que atingem o tempo máximo de permanência no serviço ativo. No entanto, a quantidade total de atletas do Programa de Atletas de Alto Rendimento não deve crescer muito.

Como já dito, a Marinha está incorporando atletas de nado sincronizado e abrirá em curto prazo edital para a modalidade saltos ornamentais.

Texto: Roberto Cordeiro e tenentes Rodrigo Streb, Larissa Lima e Flávio Nishimori
Fotos: Felipe Barra e sargento Johnson Barros

(MD ASCOM/ FM)

Share